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Verissimo, Millôr e Mino Carta: o jornalismo perdeu três mestres

  • Foto do escritor: José Maria Dias Pereira
    José Maria Dias Pereira
  • há 5 horas
  • 3 min de leitura

O jornalismo brasileiro perdeu três de seus pilares com o falecimento recente de Luís Fernando Verissimo, Millôr Fernandes e Mino Carta. Cada um, à sua maneira, moldou a forma como o país pensa, lê e interpreta os acontecimentos. A partida desses mestres não representa apenas o fim de trajetórias brilhantes, mas também o encerramento de uma era marcada pela inteligência crítica, pelo humor refinado e pela coragem editorial. 


Mino Carta, falecido aos 91 anos em São Paulo, foi o arquiteto de algumas das mais influentes publicações do país: Quatro Rodas, Veja, IstoÉ, Jornal da Tarde e CartaCapital. Imigrante italiano, Mino trouxe ao Brasil uma visão crítica e sofisticada da imprensa. Lutou contra a censura durante a ditadura militar e sempre defendeu o jornalismo como instrumento de fiscalização do poder. Sua trajetória é inseparável da história da imprensa brasileira. 


Millôr Fernandes, por sua vez, foi um dos mais versáteis intelectuais brasileiros. Escritor, desenhista, dramaturgo e jornalista, ele transitava com maestria entre o humor e a crítica social. Sua atuação na revista O Pasquim durante o regime militar foi um marco de resistência e irreverência. Millôr acreditava que o riso era uma forma de pensamento, e usou essa filosofia para desafiar o autoritarismo e provocar reflexões profundas. 


Luiz Fernando Verissimo, falecido aos 88 anos em Porto Alegre, era mais do que um cronista: era um espelho da alma brasileira. Com obras como Comédias para se Ler na Escola e As Mentiras que os Homens Contam, ele transformou o cotidiano em literatura, e a literatura em reflexão. Seu estilo leve e irônico conquistou leitores de todas as idades, tornando-o um dos autores mais lidos do país. Verissimo também foi um defensor da democracia e da liberdade de expressão, valores que permeavam suas colunas e crônicas.

 

A importância desses três nomes transcende suas realizações individuais. Juntos, eles formaram um tripé de pensamento livre, criatividade e compromisso com a verdade. Verissimo com sua crônica irreverente, Millôr com seu humor filosófico e Mino com sua militância jornalística, mostraram que a palavra escrita pode ser ferramenta de transformação social. Millôr e Verissimo tinham algo em comum – ambos eram cartunistas e costumavam eles próprios ilustrar seus textos. Quem não lembra das cobras, de Verissimo? De Millôr, minha referência foi O Pasquim, um jornal tão bagunçado que enganava o próprio censor da ditadura militar.  


É “chover no molhado” falar sobre a influência desses três para qualquer um que, um dia, tenha se arriscado a escrever em jornal impresso. Menos formal que o conto ou o artigo, a crônica pode ser escrita abusando da linguagem coloquial. No meu caso, quando comecei a escrever no jornal Diário de Santa Maria, Verissimo foi a referência principal. Devido ao curto espaço de quatro parágrafos destinado aos colunistas, acabei virando cronista a fórceps.  

Tinha que fazer uma crônica semanal e assim permaneci, aproximadamente, por cinco anos.  Se uma crônica semanal já é dureza, imagine escrever quatro crônicas semanais para diferentes veículos, como fazia L.F. Verissimo, além de publicar livros e contos.


Há algum truque que Verissimo não revela para explicar o seu processo criativo? Existe um documentário chamado "Verissimo", disponível no Globoplay, que acompanha o dia a dia do escritor, de maneira íntima e discreta, especialmente em torno dos seus 80 anos.  Nada que eu tenha percebido! Ele simplesmente senta-se à frente da tela do computador e, enquanto as ideias não chegam, ele rabisca com um lápis.  Verissimo já se definiu, numa crônica, como um “gigolô das palavras; em outra, como “refém das palavras”. Não importa o rótulo que se queira dar a ele, as crônicas de Verissimo têm como alvo o absurdo que marca a existência humana. 

 
 
 

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