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Sobre livros e abelhas

Foto do escritor: José Maria Dias PereiraJosé Maria Dias Pereira

Os livros são abelhas que levam o pólen de uma inteligência a outra”.

— James Russell Lowell (1819-1891)


De todos os meus bens materiais, considero os livros o que há de mais valioso. Tive dó quando me desfiz da maior parte de minha biblioteca de livros de economia (cerca de 500 volumes) e fiz uma doação (em partes iguais)) para as duas instituições em que dei aulas em Santa Maria (UFSM e UFN). Fiquei apenas com algumas raridades para ler ou reler na aposentadoria ou ainda, quem sabe, para o caso do meu neto de 3 anos incompletos de idade vier a se interessar um dia por estudar economia! Seja como for, os livros doados certamente serão mais úteis nas respectivas bibliotecas dessas universidades, onde estarão à disposição de todos quantos desejem ler sobre aquela que um historiador inglês (Thomas Carlyle) chamou de “ciência lúgubre”.


A trama do livro “O nome da Rosa”, do escritor italiano Umberto Eco (1932-2016), se passa em um mosteiro na Itália, que possuía uma biblioteca com grande acervo de livros, tanto cristãos quanto clássicos gregos, estes últimos considerados por alguns frades como pagãos. O mundo nessa época era dominado pela supremacia da Igreja Católica que detinha o saber. Poucos conheciam o real significado de seus dogmas e para garantir seu poder, qualquer questionamento, reflexão ou ação contrária a seus preceitos era julgada e punida pela Santa Inquisição – uma espécie de tribunal instaurado a fim de punir os hereges. O personagem principal do livro é um monge franciscano, designado a desvendar crimes que estavam ocorrendo no mosteiro, onde religiosos foram encontrados mortos após o manuseio de um determinado livro. Para não divulgar o que haviam lido, foram vítimas de envenenamento.


Num trecho memorável do livro, o autor narra um imaginário diálogo silencioso sobre o que acontece, à noite, quando a biblioteca está fechada. Escuta-se um murmúrio incessante que é como se os livros, na verdade, não fossem livros e sim os próprios escritores debatendo entre si as teses mais diversas. Ou seja, a biblioteca deixaria de ser um local de objetos inanimados e ganharia vida. Talvez de visões como essa tenha surgido a denominação de “imortais” aos membros da ABL.


Minha paixão pelos livros me trouxe até aqui. Suponho que meus alunos irão mais longe. Espero que com a mesma paixão pelos livros. Mas não tenho certeza disso. Chegar até aqui, considerando o meu ponto de partida, não foi nada fácil. Devo muito à minha falecida mãe, que, apesar de não saber ler e escrever, soube me transmitir o ensinamento fundamental de que, sem estudo, filho de pobre estava condenado a reproduzir a mesma vida dos pais. Que futuro eu teria, filho de empregada doméstica, se não tivesse estudado?


Até aqui o leitor pode achar, com razão, que o autor está divagando. Isso acontece quando há falta de assunto. Ora, direis, escrever sobre livros é coisa de quem não tem nada para dizer! Mas só quem já tentou escrever um livro, pode saber o trabalho que dá – coisa desproporcional ao reconhecimento, sobretudo financeiro. Então o que espera o autor de um livro? óbvio, que o seu livro seja lido. Infelizmente, pelo menos para livros de papel, parece que o número de leitores está diminuindo. É apenas uma impressão, não uma certeza.


O assunto do artigo surgiu porque, outro dia, fui procurar a estante de livros de economia na CESMA (Cooperativa de Estudantes de SMA) e não encontrei. Fui informado de que a demanda era insuficiente para manter um espaço específico e que, inclusive, uma área de livraria seria alugada para aulas de um cursinho pré-vestibular de medicina, se não me engano. O mesmo estaria acontecendo também com outras áreas da ciência. Pode ser que tenha havido uma compensação pela venda de livros pela internet (e-commerce). Mas, para quem gosta de manusear um livro antes de compra-lo, não deixa de ser uma perda. Suponho que algo parecido esteja acontecendo com o jornal impresso. Mas, para a maioria da minha geração, só vale o que estiver escrito no papel!

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