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O "terceiro quadrante" ou a estupidez humana

Foto do escritor: José Maria Dias PereiraJosé Maria Dias Pereira

No livro As leis fundamentais da estupidez humana (Editora Planeta, 2020), escrito por Carlo M. Cipolla, falecido em 2000, Professor Emérito do Departamento de Economia da Universidade de Berkeley, ele definiu a estupidez como “uma das forças sombrias mais poderosas que impedem o crescimento do bem-estar e da felicidade humanos”. Esse pequeno livro, que tornou o autor largamente conhecido fora dos circuitos acadêmicos, foi lembrado, de forma oportuna, no excelente artigo do Prof. Odilon M. do Canto, ex-Reitor da UFSM, publicado no Diário de Santa Maria, em março de 2022. Se a menção ao livro se fazia oportuna na época em que o artigo foi publicado, de lá para cá, tornou-se obrigatória. Odilon, que fazia o doutorado em Física Nuclear nessa época, em Berkeley, alega não ter tido oportunidade de conhecer Cipolla pessoalmente. Mas leu e resumiu o livro dele, de forma brilhante. Não teria feito melhor, o que amparou a minha decisão de repetir longas passagens do artigo. Portanto, se mérito houver no texto a seguir, deve ser colocado na conta do Prof. Odilon e erros e imprecisões na minha conta.


“A nossa experiência de vida demonstra que o resultado da interação de duas pessoas ou entre grupos, pode variar enormemente. Cipolla divide os seres humanos em quatro categorias: os inteligentes (I), os bandidos (B), os estúpidos (E) e os vulneráveis (V). Para uma explicação gráfica, Cipolla usa um sistema de coordenadas cartesianas, XY. Os inteligentes estão no primeiro quadrante, os bandidos no segundo, os estúpidos no terceiro e os vulneráveis ocupam o quarto quadrante”.


“Nas interações entre inteligentes – primeiro quadrante, a situação é sempre de ganha-ganha. Nem sempre de forma equitativa, mas nunca com perdas. São essas interações entre pessoas, grupos, ou entre nações, que produzem o empuxo do processo civilizatório. Quando o resultado é absolutamente negativo para uma das partes, estamos tratando de uma ação de bandidos – o segundo quadrante; neste caso, o ‘bandido’ seria aquele que produz um ‘dano’ superior ao seu ‘ganho’. Detectamos facilmente ações desse grupo tanto no âmbito privado, e especialmente, na arena pública. O quarto quadrante é a casa do vulnerável. São situações nas quais o sujeito da ação acaba sempre com perdas [...] O vulnerável é o sujeito que nas suas ações se auto infringe perdas”.


“Mas é a população do terceiro quadrante que mereceu atenção especial do autor. São os estúpidos. Segundo Cipolla, uma pessoa estúpida é uma pessoa que causa prejuízos a outra pessoa ou a um grupo de pessoas enquanto ela mesma não obtém ganho e, possivelmente, também incorre em perdas. O maior problema com o estúpido é que são indivíduos que não seguem a lógica racional [...] O alvo não tem armas para se defender de ações desse grupo, uma vez que elas não seguem a racionalidade. O bandido age dentro de uma lógica”. Se não houvesse racionalidade entre os ladrões, o roubo seria impossível.


“O grande problema para a civilização é quando indivíduos do terceiro quadrante passam a fazer parte dos segmentos de poder de uma nação [...] Um líder máximo de uma nação com as características do terceiro quadrante pode, com suas atitudes inesperadas e sem lógica, além de produzir estragos consideráveis, induzir um estado de perplexidade e letargia no âmbito da sociedade, criando assim um terreno propício para a ação dos bandidos”. Trump, Bolsonaro, Netanyahu, Hamas e Milei, para ficar naqueles nomes mais citados, são exemplos de indivíduos do terceiro quadrante.


Donald Trump inaugurou a moda da não política tradicional – os chamados outsiders. Milionário, Trump “passou por cima” da cúpula do Partido Republicano nos EUA e se elegeu presidente. Foi um dos poucos a não se reeleger no confuso processo eleitoral norte-americano. Derrotado nas urnas por Joe Biden, tentou burlar as eleições e estimulou seus fanáticos eleitores a invadir o Capitólio, ocasionando a morte de várias pessoas. Bolsonaro, seguiu o mesmo caminho de Trump, porém com o agravante de ter participado de um golpe contra o Estado Democrático. Punido pelo TSE, ficou inelegível por 8 anos.


O Hamas, segundo a ONU, é uma organização política e militar palestina fundada em 1987, por Ahmed Yassen, um imã e ativista palestino. Após o massacre a civis israelenses no dia 7 de outubro, o Hamas passou a ser mais classificado como um grupo terrorista. O Hamas tem o controle da faixa de Gaza, um pequeno recorte de terra, na divisa com Israel, onde vivem cerca de 2,3 milhões de habitantes, sendo metade de refugiados expulsos por Israel durante a tomada de seus territórios. A criação do estado de Israel pela ONU, em 1948, previa também a criação de um estado da Palestina, porém isso nunca aconteceu. Ao contrário, Israel aumentou cada vez mais o seu território, principalmente pela expansão dos chamados Kibutz.


Benjamin Netanyahu é um político de extrema-direita, que já ocupou várias vezes o cargo de Primeiro-ministro de Israel. Tem sido acusado pela miséria e atrocidades cometidas pelo exército israelense contra os palestinos. Atualmente é muito questionado, por um lado, pela falta de segurança que propiciou o massacre do Hamas e, por outro, pelos intensos bombardeios à faixa de Gaza, que têm causado a morte de milhares de civis, inclusive crianças, que nada têm a ver com o Hamas.


Resta, para concluir, a hipótese de o folclórico economista Javier Milei, candidato de extrema-direita, vencer no segundo turno das eleições presidenciais da Argentina, no final de novembro. Ele defende o comércio de órgãos humanos, dolarização, saída do Mercosul, rompimento com Brasil e China e fazer a Argentina grande outra vez. Qualquer semelhança com a campanha de Trump não é mera coincidência.


Como explicar o voto do eleitor em candidatos que têm tudo para dar errado, sendo óbvio que ele próprio sofreria prejuízos? Não há outra explicação, a não ser pela ação da estupidez humana!














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8 de janeiro

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