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O segundo ato de Lula

Foto do escritor: José Maria Dias PereiraJosé Maria Dias Pereira

Alheio às ameaças de golpe militar, Lula segue colecionando vitórias em diversas frentes, a começar pela declaração do Supremo de parcialidade do juiz Sérgio Moro, a anulação de sua condenação e a vantagem confortável em todas as pesquisas (ao redor de 45%) sobre seu principal adversário (Bolsonaro), que atingiu o seu maior patamar (em torno de 32%) após o fracasso da 3ª via. Ambos podem oscilar, dependendo de sua capacidade de amealhar votos do centro (que ficou órfão, após o colapso do PSDB) e da direita (fortemente influenciada pelo “Centrão”). Mas Lula ainda conta com uma “carta na manga”, que é a maioria dos votos de esquerda de Ciro Gomes, caso ele permaneça estagnado nos atuais 8% e não viabilize chances de vitória. Situação semelhante, aliás, a do ex-governador João Dória, de São Paulo.


Mas nada se compara ao sucesso de Lula no front externo. Após deixar a prisão, fez um tour pela Europa, sendo recebido com honras por vários Chefes de Estado (entre eles, o chanceler alemão e o presidente francês). Em seguida, teve reconhecido, por parte do Comitê de Direitos Humanos da ONU, de que não teve um julgamento justo. Por fim, obteve o reconhecimento internacional ao ter sua foto estampada na capa da prestigiosa revista norte-americana Time – prestígio atingido por poucos mortais, sobretudo fora do ocidente desenvolvido. Entre a meia dúzia de políticos brasileiros que foram capa da revista, destaca-se Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek.


Alguém imaginaria que, em tão pouco tempo, haveria tamanha reviravolta na vida de Lula? Acho que nem ele próprio, ao longo dos 580 dias em que ficou preso em regime fechado. Na verdade, Lula só readquiriu seus direitos políticos (direito de concorrer à presidência) em março de 2021, quando o ministro L.E. Fachin, do STF, anulou as condenações de Lula no âmbito da “Lava Jato”, por considerar que a condenação do TRf-4 (Porto Alegre) estava fora de sua jurisdição, que, no caso era oTRF-1 (Brasília). Com isso, o processo voltou à “estaca zero”. Posteriormente, o caso do triplex do Guarujá, que motivou a prisão de Lula, foi arquivado pela justiça.


Seja do jeito que for, à época do “inferno astral” de Lula, não faltou quem jogasse pedras e, hoje, depois de tudo que aconteceu, comportam-se como Pedro, que negou três vezes conhecer Jesus. Ninguém tem culpa de nada, foi tudo engano! A verdade é que, em que pese o grande estardalhaço da grande mídia, não havia provas contra Lula. Mas a “Lava Jato” não seria a mesma se não tivesse uma enorme publicidade a seu favor. Para isso, um juiz de 1ª instância (Moro) e o chefe da operação (Deltan Dallagnol) precisavam de holofotes. E nada melhor do que transformar Lula em réu, apenas com base em depoimento de delatores disposto a tudo para “livrar o pescoço”. Dellagnol, na célebre apresentação do diagrama no PowerPoint, foi mais longe e chamou Lula de “chefe de organização criminosa”, que, no caso, era um partido político (o próprio PT).


Águas passadas. Hoje a operação “Lava Jato” está quase esquecida pela grande mídia, que, como de praxe, nunca admite seus erros. Por ironia da história, a reputação de Lula permanece intocada. Pelo menos, é o que se pode deduzir das pesquisas eleitorais. Sérgio Moro mostrou a quem estava a serviço ao aceitar ser ministro da Justiça de Bolsonaro, um erro político de amador. Foi com “muita sede ao pote” e, agora, pouca gente se sensibiliza mais com o batido discurso contra a corrupção. Dallagnol, da última vez que ouvi falar dele, estava fazendo uma “vaquinha” entre os procuradores do MP para pagar indenizações ganhas pelo advogado de Lula.


Muita coisa mudou na vida de Lula, desde que deixou a prisão. Passou por dramas pessoais, como a própria morte de sua esposa (Dona Marisa), mas está reconstruindo outra relação. Inclusive o novo casamento foi marcado para o dia em que este artigo está sendo publicado. Aparentemente, seu principal adversário na eleição de outubro é ele próprio. Como gosta de falar de improviso, Lula comete erros e tem que se corrigir depois. Casos da invasão da Ucrânia pela Rússia, do aborto e dos policiais. Soma-se ainda a dificuldade de se equilibrar entre a esquerda e a necessidade de votos da direita para ganhar a eleição. A escolha de Alckmin para vice foi uma jogada de mestre. Pegou todo mundo de surpresa. Se vai dar certo, é outra história.

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