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Banco Master e a Fragilidade dos Bancos Digitais no Brasil

  • Foto do escritor: José Maria Dias Pereira
    José Maria Dias Pereira
  • há 18 minutos
  • 3 min de leitura

A liquidação extrajudicial do Banco Master, decretada pelo Banco Central em novembro de 2025, marcou um dos episódios mais emblemáticos da história recente do sistema financeiro brasileiro. O caso não apenas expôs as vulnerabilidades de uma instituição que cresceu de forma meteórica, mas também trouxe à tona questões estruturais sobre a solidez dos bancos digitais, os mecanismos de proteção ao investidor e o papel das autoridades reguladoras.


A baixa escala e a necessidade constante de capitalização criaram um cenário de vulnerabilidade. No início dos anos 2010, a instituição enfrentava dificuldades financeiras e operacionais. O ponto de virada ocorreu em 2018, com a chegada de Daniel Vorcaro ao comando. A nova gestão promoveu uma capitalização de R$ 400 milhões, redesenhou processos e adotou uma estratégia agressiva de expansão. Em 2021, a instituição abandonou o nome Banco Máxima e passou a se chamar Banco Master, simbolizando a ambição de crescer rapidamente e consolidar-se como força relevante no mercado financeiro brasileiro.


Entre 2018 e 2023, o patrimônio líquido do banco saltou de R$ 219 milhões para mais de R$ 5 bilhões. A receita anual, que era de R$ 190 milhões em 2018, superou R$ 1 bilhão no ano seguinte. O crescimento foi sustentado por estratégias ousadas, como a compra e reestruturação de empresas em crise, investimentos em ativos de risco e a oferta de CDBs com taxas muito acima do mercado. Em 2024, assumiu o controle do will bank, instituição 100% digital com forte presença no Nordeste.


A crise do Banco Master ganhou contornos dramáticos em 2025, mas seus sinais já eram perceptíveis desde 2022, quando começaram a surgir dúvidas sobre a saúde financeira da instituição. Em março de 2025, o Banco de Brasília (BRB) anunciou a intenção de adquirir 58% do capital do Master por cerca de R$ 2 bilhões. A operação, que formaria um conglomerado com cerca de R$ 100 bilhões em ativos, foi barrada pelo Banco Central após questionamentos sobre a viabilidade econômico financeira.


Com dificuldades de caixa, o Master buscou alternativas. Em maio, obteve uma linha de crédito emergencial de R$ 4 bilhões do FGC, renovada duas vezes. Na véspera da liquidação, a holding Fictor e um consórcio de investidores dos Emirados Árabes Unidos propuseram um aporte imediato de R$ 3 bilhões e a compra das ações do fundador Daniel Vorcaro. A proposta perdeu validade com a decretação da liquidação do banco.


A liquidação extrajudicial encerrou imediatamente as operações do banco, afastou a diretoria e nomeou um liquidante para administrar o processo. Paralelamente, a Polícia Federal prendeu Daniel Vorcaro e outros diretores, acusados de gestão fraudulenta, organização criminosa e emissão de títulos de crédito falsos.


O sinal de alerta ficou evidente quando o banco passou a oferecer CDBs com taxas consideradas "irreais" por especialistas. As investigações revelaram que o Master mantinha ativos ruins registrados como se fossem de boa qualidade e utilizava o dinheiro de novos investidores para pagar antigos, em uma dinâmica insustentável.


A liquidação extrajudicial do Banco Master gerou uma onda de incerteza entre correntistas, investidores e grandes institucionais, como fundos de pensão. O impacto, no entanto, variou conforme o perfil do investidor e o tipo de produto financeiro adquirido. Para correntistas e investidores em CDBs, LCIs e LCAs, os valores são protegidos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) até o limite de R$ 250 mil por CPF ou CNPJ, por instituição. Valores acima desse limite entram na lista de credores da liquidação, com possibilidade de recebimento apenas após a venda de ativos, o que pode levar anos e não há garantia de pagamento integral.


A ascensão dos bancos digitais no Brasil transformou o cenário bancário, trazendo inovação, competitividade e inclusão financeira. No entanto, o caso do Banco Master evidencia fragilidades estruturais do modelo digital, especialmente em relação à gestão de risco, rentabilidade e sustentabilidade de longo prazo. A tentativa de aquisição do Banco Master pelo BRB, com apoio do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, e aprovação da Câmara Legislativa em tempo recorde, levantou suspeitas de pressões políticas e falta de transparência.


A liquidação extrajudicial do Banco Master representa um divisor de águas para o setor bancário brasileiro, especialmente para os bancos digitais. O futuro dos bancos digitais no Brasil passa pelo equilíbrio entre inovação e responsabilidade, crescimento e sustentabilidade, experiência do cliente e solidez financeira. Para o cliente, a busca por segurança e estabilidade tornou-se prioridade, em detrimento da rentabilidade elevada oferecida por bancos menos conhecidos. O caso Master deixa lições valiosas para o setor bancário nacional.

 
 
 

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