Neonazismo
A barbárie dos recentes ataques de adolescentes a crianças e professoras em escolas no Brasil, despertou nas autoridades (a começar pelo atual ministro da Justiça, Flávio Dino) a sensação de que é preciso agir. A violência nas escolas é algo que vem se manifestando em vários países e que tem seu crescimento explicável pela influência das redes sociais. É um acontecimento que afeta não apenas a juventude, embora esse contingente seja mais vulnerável ao disparo de mensagens de ódio pela chamada “Inteligência Artificial” (robôs), mas também a faixa etária dos mais velhos, que tem dificuldade no uso dessas novas tecnologias e que – não sabendo definir o que é fato ou fake – compartilham, ingenuamente, notícias falsas pela rede. Aplica-se aqui a máxima do ministro da propaganda do 3º Reich (Goebbels) de que “uma mentira contada mil vezes, vira verdade”.
Esses selvagens acontecimentos, que nos levam a duvidar da própria humanidade, não são fortuitos. Estão inseridos em um contexto de crescimento do poder da extrema-direita em países europeus (Itália, por exemplo) e nos Estados Unidos, inclusive fora da política tradicional, como foi o caso da eleição um milionário, como Donald Trump. No Brasil, não foi muito diferente, com a chegada ao poder de Jair Bolsonaro. Resta saber que perigo esses dois líderes, ambos fracassados na tentativa de reeleição, irão representar para essas duas grandes democracias, no futuro próximo?
Apesar do início da CPI do 8 de janeiro já estar marcada, Bolsonaro viajará no dia 12 de maio para Lisboa onde participará de um evento, junto com outros líderes de extrema direita, como o vice-primeiro-ministro italiano (Mateos Salvini), organizado pelo “Chega” – partido de ultradireita de Portugal, que ficou mais conhecido no Brasil após alguns membros desse partido terem hostilizado Lula, na recente viagem que fez ao país. Anteriormente (em março), Bolsonaro já havia participando, nos Estados Unidos, da conferência anual da Ação Política Conservadora, que contou também com a presença de Trump.
Aqui se encaixa a conhecida frase: “aqueles que não conhecem a história estão condenados a repeti-la”. Um exemplo foi a apreensão de um adolescente num município do interior gaúcho, suspeito de planejar um ataque a outra escola. Segundo a Polícia, na residência do menor, foram encontrados “farto material de alusão ao nazismo e outras posições ideológicas extremistas”. O que chamou a atenção para o caso foi os pais do menor terem sido presos em flagrante. Ao cumprir o mandado de busca e apreensão, face ao farto material encontrado, a Polícia concluiu que era impossível os pais não estarem sabendo de nada.
O crescimento de grupos neonazistas e de extremistas de direita trás um grande perigo para a formação da juventude e um risco para a própria democracia. A invasão das sedes do Executivo, Legislativo e Judiciário, no fatídico 8 de janeiro, foi apenas a “ponta de um iceberg”, ou seja, de um processo que ganhou grande impulso com o avanço da internet e, em especial, com a popularização dos smartphones. Financiada por segmentos golpistas e organizada através das redes sociais, a invasão resultou na prisão de centenas de pessoas que participaram desse ato antidemocrático, muitas delas “seguidoras” de Bolsonaro, que acreditaram nas suas mentiras sobre fraude eleitoral.
O episódio revela mais um efeito nocivo das redes sociais. Ao “seguir” personalidades famosas, o indivíduo abre mão de ter a sua própria opinião e vira “massa de manobra”. O disparo de milhares de mensagens falsas e o surgimento de “influenciadores digitais” são fenômenos nos quais as instituições democráticas ainda não sabem como lidar. De outro lado, as gigantes da tecnologia usam o pretexto da “liberdade de expressão” para justificar a falta de controle sobre o que é publicado em suas plataformas. Apenas decisões judiciais são cumpridas por elas, quando há risco de multa.
É chocante ver adolescentes com cartazes no quarto ou tatuados com símbolos nazistas, simplesmente por acreditarem nas mentiras de organizações fascistas espalhadas na internet. Para deixar de ser “zumbi”, a salvação está nos livros. Para começar, sugiro dois: “O piloto de Hitler”, de C.G. Sweeting (Edit. Jardim dos Livros) e “Hitler”, de Ian Kershaw (Cia. Das Letras). Asseguro que, quem seguir o meu conselho, não irá se arrepender.
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