top of page
Buscar

"Muito barulho por nada"

Foto do escritor: José Maria Dias PereiraJosé Maria Dias Pereira

As idas e vindas em tono da “terceira via” e a divulgação de boatos pelos pré-candidatos às próximas eleições lembram um pouco a trama da famosa comédia Muito barulho por nada, escrita pelo dramaturgo inglês William Shakespeare, que teve sua primeira apresentação no final do séc. XVI. A peça cheia de reviravoltas, reveses e truques, mostra como é fácil nos levar a acreditar que uma mentira é verdade e uma verdade é mentira.


Nesse particular, Bolsonaro é imbatível. Sua especialidade é criar factoides, ou seja, informação falsa ou não comprovada que se aceita como verdadeira em razão de sua repetida divulgação pela imprensa. Sempre que sua campanha “esfria” ou surge uma notícia negativa para o governo, desvia o assunto para um tema “requentado”. Isso é mais velho do que o mundo, mas, por incrível que pareça, ainda “cola”. Ele bate sempre na mesma tecla – suspeição do TSE –, embora jamais tenha apresentado provas quando intimado a fazê-lo.


Bolsonaro faz “muito barulho por nada”, o que, no fundo, é uma estratégia de mau perdedor. Se perder a eleição, já tem uma desculpa pronta para dar aos seus eleitores: houve roubo. Não tem como provar, mas irá induzir a quem vota nele a acreditar que uma mentira é verdade. Aliás, nada diferente do que fez o Trump nos Estados Unidos. Seus grupos de apoiadores, que só falam entre si, continuarão a acreditar que uma verdade (sua derrota) é mentira.


Se fosse só isso, estaria dentro da normalidade. O problema é que Bolsonaro não vai se contentar com pouca coisa. Sinaliza que não vai obedecer às regras democráticas e, com isso, ameaça às instituições – o STF, em particular. O caso do “perdão” ao deputado federal Daniel da Silveira é ilustrativo. Seus assessores descobriram, não se sabe como, a tal lei da “graça”, que nunca foi aplicada no Brasil, desde a Constituição de 1988. A revogação da condenação do tal deputado tem um único objetivo: desacreditar o STF e, quem sabe, lá na frente, se perder a eleição, fazer um discurso de vítima.


O mais ridículo de tudo é que o “circo” armado por Bolsonaro usa como desculpa a defesa da liberdade de expressão. Hilário, justo ele que sempre defendeu a ditadura militar e homenageou torturador. E o que dizer do deputado que obteve o indulto, que defende o Ato Institucional nº 5 – a medida mais dura contra a liberdade de expressão imposta pela ditadura militar, além de pregar a extinção do STF? Tudo se passa como num palco onde os atores estão ensaiando uma peça de muito mau gosto, onde o que importa é sair na mídia. Como das outras vezes, tem tudo para não dar em nada. Enquanto isso, forma-se uma “nuvem de fumaça” sobre os problemas reais do país.


Mas tem um ponto que preocupa: as ameaças autoritárias de Bolsonaro contra as eleições. Basta uma rápida olhada em sua trajetória militar para descobrir que ele sempre foi um provocador. Graças à benevolência do Supremo Tribunal Militar (STM) não foi expulso da Corporação. Documentos obtidos recentemente pela comentarista Miriam Leitão (GloboNews), revelam que, na época da ditadura, o STM era conivente com a tortura. O perigo agora é Bolsonaro agir como o Cabo Anselmo, personalidade controvertida, cujo discurso para os marinheiros serviu de pretexto para o golpe militar.


Durante muito tempo, Anselmo foi visto como contrário ao regime e participante da luta armada. Porém, sobretudo após a Anistia, membros da guerrilha passaram a ver nele um delator da polícia repressora comandada pelo delegado Fleury – principal responsável por desbaratar a guerrilha urbana (inclusive pela morte de Marighella) e notório torturador do DOPS.


Em tempo: a controvertida personalidade do cabo Anselmo está sendo desvendada agora na excelente série/documentário “Em busca de Anselmo”, no canal fechado HBOmax.

25 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

8 de janeiro

Comentarios

Obtuvo 0 de 5 estrellas.
Aún no hay calificaciones

Agrega una calificación
bottom of page