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Marcha da insensatez

Foto do escritor: José Maria Dias PereiraJosé Maria Dias Pereira

Duas semanas após o resultado do 2º turno do pleito eleitoral, vencido por Lula por mais de 2 milhões de votos de diferença, ainda uma minoria (onde se inclui o presidente Bolsonaro) insiste em não reconhecer esse fato. Após, sob suspeita de conivência com os protestos e lentidão, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) ter liberado as estradas do bloqueio dos manifestantes bolsonaristas, agora pequenos grupos golpistas acamparam em frente aos QGs. do Exército em vários locais, com destaque para os 240 caminhões estacionados na capital federal. Para meu espanto, soube que, mesmo aqui em Santa Maria, tem acontecido isso. Pessoas enroladas na bandeira nacional se revezam diante dos quartéis, atrapalhando o trânsito. O que elas querem com isso?


Inacreditável! Já passou tempo suficiente para que os perdedores “esfriassem a cabeça”. O que eles querem? Golpe militar? Fim do Supremo Tribunal Federal (STF)? Impeachment do ministro Alexandre de Morais (presidente do STE)? Invalidar eleições limpas e reconhecidas por inúmeros países? Com que propósito cidadãos de bem atentam contra a democracia – o que é crime, diga-se de passagem? E depois, como vai ser? Novas eleições ou Bolsonaro vira ditador? Deus do Céu, esse pessoal perdeu o juízo! Se não têm noção do papel ridículo que estão fazendo, basta ver os “memes” na internet. Cedo ou tarde, irão perceber que o melhor que têm a fazer é ir para casa e tocar a vida. Alguns estão dizendo que se mudarão para o exterior até fim do governo Lula. Então a bandeira e o verde-amarelo nada tinham a ver com o patriotismo?


Para usar uma expressão militar, a maioria dos manifestantes antidemocráticos está sendo usada como “bucha de canhão”. O que é preciso saber é o “sujeito oculto”, ou seja, quem está por trás, financiando a viagem dos caminhões para Brasília e as despesas das pessoas lá acampadas. Já existem empresas identificadas, do setor do agronegócio, sobretudo do Mato Grosso do Sul e Santa Catarina, estados onde Bolsonaro obteve a maioria dos votos. A organização dos atos, à frente dos quartéis, segue o mesmo padrão do bloqueio das estradas. Não é um movimento grevista, como foi logo desmentido pelos líderes dos caminhoneiros. Trata-se de tentativa de desrespeitar, sem nenhuma prova concreta, o resultado das urnas. Um embuste em nome da “liberdade de manifestação”.


Liberdade de manifestação só é possível numa democracia, cuja expressão maior é exatamente o voto popular. Ora, não respeitar o Estado Democrático de Direito conduz ao Estado Autoritário, que é justamente onde não é permitida a liberdade de manifestação. Uma contradição, portanto. A nota das Forças Armadas (FA) usou esse tipo de argumentação como forma de atacar o STF. É mais um exemplo de “aparelhamento das instituições de Estado”, onde se destaca a intervenção indevida do Ministério da Defesa na sua tentativa de auditar as urnas eletrônicas. A pretensão das FA de agir como um “poder moderador” é descabida e extrapola a sua função institucional.


Bolsonaro condenou o fechamento das estradas, mas não o criminoso movimento golpista contra a democracia, entrincheirado à frente dos quartéis. Após a liberação das estradas, preferiu o silêncio cumplice de incentivo às manifestações. Pesquisa reproduzida no jornal Valor Econômico, fez o retrato do bolsonarista raiz ou padrão, que é o seguinte: homem, morador do Sudeste, com idade a partir de 45 anos, renda acima de dez salários-mínimos e evangélico. Não costumam ler jornais ou assistir telejornais e se informam ouvindo rádio ou pelas redes sociais. Essas pessoas representam cerca de 20% da população e têm algo em comum – o antipetismo. Com elas não têm conversa, se o “mito” se jogar num precipício, elas fecharão os olhos e irão atrás.



Será que, com o restante dos eleitores de Bolsonaro, dá para dialogar? Acho que sim. A atual polarização é fruto do perfil provocador que sempre acompanhou Bolsonaro. Na presidência, não tinha por que ser diferente. Sempre governou para a sua “bolha”. Os laços de fraternidade entre irmãos devem prevalecer no lugar do discurso de ódio, pregado pelo bolsonarismo. O saudável debate de ideias deve voltar à mesa do almoço de domingo das famílias brasileiras, mas sem brigas. 2022 será apenas uma triste lembrança do ano em que a democracia brasileira foi submetida ao seu pior teste – e sobreviveu. Será que é desejar demais?

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