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Chile: 50 anos do golpe militar

Foto do escritor: José Maria Dias PereiraJosé Maria Dias Pereira

Após o fim da II Guerra Mundial, os Estados Unidos (EUA) lançaram o programa “Aliança para o Progresso”, cujo objetivo principal era respaldar sua política externa em relação a então União Soviética (URSS) – a chamada “Guerra Fria”. Nesse sentido, era preciso manter os países latino-americanos sob vigilância quase policial, à prova de insurreições. Mesmo que o preço a pagar significasse apoiar regimes totalitários, como a ditadura militar brasileira. Aliás, hoje existem provas cabais de que a ditadura brasileira retribuiu o apoio dos EUA ao golpe de 1964, participando financeiramente e treinando militares chilenos em técnicas de tortura que estavam sendo aplicadas no Brasil, como mostra o documentário “O Grande Irmão”, exibido recentemente pela Globo News.


Embora uma sombra de regimes repressivos instáveis se espalhasse pela América Latina (chamada jocosamente de “República das Bananas”) multiplicam-se os grupos de esquerda dispostos a derrubar esses regimes. Este é o caso do pequeno grupo de revolucionários barbudos, liderados por Fidel Castro, que arriscaram a vida num pequeno barco para a travessia dos EUA até Cuba, em 1956. Na época, o presidente norte-americano John Kennedy, depois da fracassada tentativa de invasão à Cuba (praia Bahia dos Porcos), que quase levou a um conflito nuclear (crise dos mísseis), rompeu as relações com Cuba e impôs um bloqueio econômico à ilha que vigora até hoje.


Kennedy seria misteriosamente assassinado a tiros provenientes de um edifício na cidade de Dallas, nos EUA. Em seu lugar, assumiu o vice-presidente, Lyndon Johnson. Em 1964, após a vitória de Eduardo Frei, candidato da Democracia Cristã nas eleições chilenas, Johnson faz um elevado empréstimo ao Chile. Mais uma vez, Salvador Allende, candidato da esquerda, sairia derrotado das eleições. Mas os ventos sopram a seu favor. O desgaste dos Estados Unidos com a guerra do Vietnã e a morte de Che Guevara pavimentam o terreno para o crescimento da esquerda democrática. Allende é eleito Senador e, a partir de 1966, assume como presidente do Senado.


Ao mesmo tempo, as condições políticas mudaram no Chile. A Democracia Cristã perdeu influência entre 1968 e 1969 e um novo fator surge no horizonte político chileno: um movimento revolucionário de extrema-esquerda. Seus quadros são recrutados entre jovens universitários que têm um discurso completamente diferente do tradicional parlamentarismo chileno. Exigem transformações imediatas, como distribuição de riquezas e reforma agrária, e não descartam inclusive a luta armada. Com isso, a Democracia Cristã se divide e surgem grupos descontentes que formam novos partidos cristãos de orientação marxista. Nas eleições de 1970, o Partido Comunista lança o poeta Pablo Neruda como candidato à Presidência, que depois retiraria a sua candidatura em favor do socialista Salvador Allende, que vence as eleições e assume a Presidência do Chile.


Allende nacionalizou o cobre, principal riqueza chilena, e descontou do preço das indenizações os extraordinários lucros obtidos pelas das empresas multinacionais norte-americanas que dominavam o setor. Fez a mesma coisa com o ferro, os bancos privados e acelerou a reforma agrária. As medidas do governo foram sabotadas pelo Congresso, os sindicatos corporativos – como o dos caminhoneiros – fizeram greves, em conluio com associações patronais. Os alimentos começaram a ser estocados e criou-se um mercado negro. Os organismos bancários internacionais, como o FMI, controlados pelos EUA, suspenderam todos os créditos ao Chile. Paralelamente, a CIA destinou milhões de dólares para financiar a sabotagem ao governo democraticamente eleito. Allende foi às Nações Unidas denunciar a criminosa conspiração contra seu governo.


A denúncia internacional de Allende em nada resultou. Diante da perda da governabilidade, tentou um último recurso: propôs um plebiscito imediato para que o povo decidisse a sorte de seu governo. Em vão, pois o golpe contra ele já estava armado. Seu principal erro foi confiar no constitucionalismo das Forças Armadas (FA), em particular no general Augusto Pinochet, ministro do Exército. Na madrugada de 11 de setembro de 1973, o golpe militar é consumado, sob comando do próprio Pinochet. Allende recebe um ultimato das FA. Ou renuncia e abandona o país, ou os aviões começarão o bombardeio ao Palácio de La Moneda, sede presidencial.


Como havia dito, meses antes do golpe militar, Allende cumpriu a palavra de que seus inimigos não o tirariam vivo de La Moneda. Foi metralhado, junto com jovens combatentes de sua guarda pessoal, por um comando do Exército que invadiu o Palácio. Ao entardecer do mesmo dia, uma patrulha de soldados e bombeiros retirou o cadáver de Allende numa modesta maca sob os escombros ainda fumegantes do histórico prédio em ruínas. Allende morreu como um revolucionário. Esse foi o último capítulo do caminho chileno para o socialismo. Começava ali uma outra página – a da sangrenta ditadura de Pinochet, que duraria 17 anos.

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8 de janeiro

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