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A vida simples de "Pepe" Mujica

  • Foto do escritor: José Maria Dias Pereira
    José Maria Dias Pereira
  • 15 de mai.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 23 de mai.

“Há homens que lutam um dia e são bons. Há outros que lutam um ano e são melhores. Há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida. Estes são os imprescindíveis.”  (Bertolt Brecht) 


O “mais pobre presidente do mundo”.  Assim José Alberto Mujica Cordano, o “Pepe” Mujica, foi chamado pelo jornal espanhol El Mundo há uma década, quando se tornou presidente do Uruguai e ganhou fama mundial. A simplicidade do uruguaio, que preteriu à residência oficial para continuar morando em uma chácara nos arredores de Montevidéu, foi um contraste com outros chefes de Estado. Mujica sempre foi crítico do consumo exagerado do mundo atual, que faz com que as pessoas trabalhem demais para adquirir bens e objetos sem valor e desperdicem o que tem de mais valioso: o tempo de sua vida. 


Mujica foi militante da guerrilha urbana Tupamaros nos anos 1960, levou 6 tiros, ficou 15 anos presos, sendo 11 deles em uma solitária. Foi torturado. Esse período, segundo descreveu, foi crucial para formar sua visão de mundo. Quando ele e os outros presos políticos foram libertados em 1985 sob uma anistia geral, os Tupamaros se juntaram à coalizão de esquerda conhecida como Frente Ampla (FA). 


Em 2009, tornou-se presidente em uma eleição de segundo turno. A presidência foi marcada por aprovação de leis pioneiras na América Latina, como legalizações do aborto e da maconha e casamento de pessoas do mesmo sexo. Mujica também aumentou os gastos sociais e o salário-mínimo. 


Mujica construiu ao longo de duas décadas uma relação próxima com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, marcada por afinidades políticas, gestos de solidariedade e amizade pessoal. A ligação entre os dois começou em 2005, quando Mujica, então senador, participou da posse do presidente Tabaré Vázquez. Lula, presente na cerimônia, ficou impressionado com o discurso do político uruguaio. 


Momentos simbólicos reforçaram os laços entre os dois. Em 2018, Mujica visitou Lula na prisão em Curitiba, durante a Operação Lava Jato. Quatro anos depois, durante a campanha presidencial de 2022, Mujica participou da última caminhada de Lula na Avenida Paulista antes do segundo turno. Em dezembro de 2024, Lula concedeu a Mujica o grande colar da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, maior honraria do Brasil a estrangeiros. O último encontro entre ambos foi em março deste ano, durante a posse do presidente Yamandú Orsi, sucessor político de Mujica.   


A América Latina, marcada por desigualdades sociais históricas, perde, em pouco tempo, dois líderes que dedicaram suas vidas às causas dos pobres: o Papa Francisco, líder espiritual da Igreja Católica, e José "Pepe" Mujica, ex-presidente do Uruguai. Ainda que por caminhos diferentes, ambos compartilharam um compromisso visceral com a humanidade, deixando marcas que transcendem fronteiras e crenças. Francisco e Mujica foram símbolos de simplicidade. 


O Papa, conhecido por rejeitar ostentações, optou por morar em residências menos luxuosas do Vaticano e enfatizou a "Igreja pobre para os pobres". Pepe morou até o fim da vida numa chácara chamada La Puebla, nos arredores de Montevidéu, numa casa de um quarto com teto de zinco. Durante a presidência, doava 90% do seu salário de presidente e o único bem que deixou foi um Fusca azul, ano de fabricação1987. 


 


 
 
 

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