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A crise das Americanas

Foto do escritor: José Maria Dias PereiraJosé Maria Dias Pereira

Homem primata, capitalismo selvagem”

(letra de canção dos Titãs)


Até o dia 12 de janeiro, a Americanas (AMER3) era uma das principais empresas da bolsa de valores. Afinal de contas, a empresa foi a quinta maior empresa varejista do Brasil em 2022, com um valor de mercado estimado em R$ 11 bilhões. Até essa data, os papéis da companhia eram cotados a R$ 12. Porém, uma semana depois, após o CEO da Americanas, Sérgio Rial, que ficou no cargo somente 11 dias, ter informado, em fato relevante ao mercado, que a empresa tinha encontrado “inconsistências contábeis”, ao não ter registrado, no seu Balanço, dívidas na casa dos R$ 20 bilhões, as ações da Companhia “derreteram” para R$ 1,00 em 20 de janeiro. Um pequeno investidor chegou a se queixar que suas ações haviam virado “troco de bala”.


Embora o seu lugar no mercado, depois do episódio, jamais volte a ser recuperado, cabe esclarecer que a empresa varejista não faliu (ainda). Na verdade, a empresa foi à Justiça para fazer um pedido de recuperação judicial, admitindo uma dívida de R$ 43 bilhões A medida permite, entre outras coisas, congelar pagamento de dívidas por 180 dias, mantendo as operações e dando um tempo para que a empresa tente se recuperar e quitar, aos poucos, o que deve aos fornecedores. Diferentemente da falência, na recuperação judicial, as atividades não são interrompidas e há uma negociação com os credores para tentar encontrar um meio termo entre eles.


Em resposta à liminar, o banco BTG Pactual, credor de R$ 3,51 bilhões fez uma petição para tentar derrubar o bloqueio das execuções de dívidas da Americanas. Apenas 8 bancos somam R$ 27,2 bilhões a receber, dentre eles o Deutsche Bank (R$ 5,2 bilhões), Bradesco (R$ 4,8 bilhões), Santander (R$ 3,65 bilhões), Votorantim (R$ 3,28 bilhões), Unibanco (R$ 2,9 bilhões), Safra (R$ 2,53) e Banco do Brasil (R$ 1,36 bilhão).


O que impressiona é que os principais responsáveis pelo “rombo” nas Americanas estão entre os homens mais ricos do Brasil. São os empresários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira – sócios fundadores do 3G Capital que possuem participação majoritária na Americanas. Segundo o ranking de bilionários de 2023 da revista Forbes, Jorge Paulo Lemann é a 114ª pessoa mais rica do mundo e o segundo do Brasil, com uma fortuna estimada de US$ 15,8 bilhões. Beto Sicupira, como é conhecido, está em quarto lugar na lista de bilionários brasileiros, com patrimônio estimado de R$ 7,8 bilhões. Por último, o empresário Marcel Telles, depois ocupar, em 2021, o lugar de homem mais rico do país, com fortuna de US$ 11,5 bilhões; em 2022, ficou em 3º lugar entre os brasileiros mais ricos.


No texto da petição do BTG, o trio é citado como homens “ungidos como uma espécie de semideuses do capitalismo mundial ‘do bem’, que foram pegos com a mão no caixa daquela que, desde 1982, é umas das principais companhias do trio”. O trio se dispõe a recomprar R$ 12 bilhões em dívidas com desconto de 60%. A alternativa é esperar um ano para começar a receber (180 dias prorrogáveis por mais 180 dias). Há grandes empresas (Samsung, Nestlé, etc.) que podem ser afetadas fortemente. Há uma imensa cadeia de quase 10 mil fornecedores da Americanas ansiosa para ver como as dívidas serão pagas.


Caso a Americanas reduza sua operação, ou até mesmo deixe de operar, a primeira conclusão é de que seus fornecedores deverão passar a buscar outros compradores para suprir o volume que antes era negociado com a empresa. Nesse caso, em tese, o Mercado Livre (que substituiu o patrocínio da Americanas no Big Brother Brasil 23) seria o mais apto a tomar a dianteira. Pesa contra esse gigante da internet, o fato de não ter lojas físicas. O que daria uma vantagem para outros concorrentes, como a Magalu, por exemplo.

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