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A cilada

Foto do escritor: José Maria Dias PereiraJosé Maria Dias Pereira

Atualizado: 6 de mar.


A cena, patética, ocorreu no Salão Oval da Casa Branca, em Washington DC., sede da presidência dos Estados Unidos, no último dia do mês de fevereiro de 2025. Sentados, muito próximos uns dos outros, Donald Trump, presidente dos EUA, JD. Vance, Vice presidente e Volodymir Zelenski presidente da Ucrânia. Possivelmente, o bilionário Elon Musk, nomeado “Secretário da Eficiência” por Trump, estivesse observando tudo de longe. A reunião, anunciada para a assinatura de um Acordo para um “cessar fogo” entre a Rússia e a Ucrânia, como não poderia deixar de ser, atraiu a atenção de toda a imprensa mundial. 


O presidente ucraniano encontrava-se pela primeira vez com Trump, desde a sua posse. Embora já tivesse havido comentários desairosos, da parte de Trump, em relação a Zelenski, esperava-se um encontro tranquilo para selar o apoio dos americanos – como já vinham fazendo, principalmente através do fornecimento de armas – aos ucranianos. Não foi o que aconteceu. Zelenski não tardou a perceber que caíra numa cilada. A presença do Vice não fazia sentido uma vez que o próprio Trump estava ali em pessoa. 


Enquanto Trump só observava, quem promovia os ataques a Zelenski era J.D. Vance que usava palavras duras. Vance, que já foi crítico de Trump no passado, é contra o fornecimento de dinheiro à Ucrânia e apoiador do movimento “Faça a América Grande Outra Vez”. Quando percebeu que o seu Vice estava em apuros, Trump resolveu intervir, porém, àquela altura, só lhe restou o argumento da força e da ameaça, enquanto Zelenski mantinha uma aparente calma.  Vance, por sua vez, ficou “fora de combate”, ao admitir que nunca fora à Ucrânia. Tudo aconteceu na frente dos jornalistas que cobriam a reunião, que viram o presidente apontar o dedo e empurrar levemente Zelenski com a mão.  Por pouco, não chegaram às "vias de fato".


O que mais surpreendeu é que os dois ignoraram o local e o público que presenciava a conversa. Ambos pareciam bêbados sem noção da realidade. Não era o poderoso empresário do reality show “O Aprendiz” que estava sentado ali e sim o presidente dos Estados Unidos. Tampouco Zelenski era um comediante conhecido por uma série de TV , que vencera as eleições em seu país, e que ousara desafiar o poderio bélico da Rússia. Ele agora lidera uma Nação que luta desesperadamente para não ser anexada à Rússia. Como programa de TV, o encontro foi um sucesso, mas como uma reunião de líderes foi um fracasso. Nenhum dos dois representou bem o seu papel.


Olhando do alto da montanha, não foi um simples “bate boca”. O estrago foi grande nas relações Estados Unidos e a Europa, ameaçando a própria existência do tratado de ajuda militar entre europeus e americanos (OTAM). Trump deveria ter ficado de boca fechada. Além da atitude colonialista de se apropriar de metais raros ucranianos, ele inverteu a ordem dos fatos, como se fosse a Ucrânia a causadora da guerra ao invés invasão soviética do território ucraniano. 

 

A insistência de Zelensky em ter um compromisso de ajuda norte-americana – o que irritou muito Trump, que esperava uma aceitação incondicional – faz sentido. Afinal, quem confiaria em Putin que violou duas vezes o Acordo do Paz com a Ucrânia?  A primeira, quando devolveu à Rússia todo o armamento da ex-União Soviética em troca de não invasão do seu território. A segunda, mais recente, quando a Rússia invadiu a Crimeia, território pertencente a Ucrânia.  


A guerra Rússia-Ucrânia já dura mais de três anos. Putin esperava um desfecho rápido, o que não aconteceu por causa da ajuda (leia-se armamentos) dos aliados. Zelenski sonhava em entrar para a OTAM. Agora a própria organização pode deixar de existir com a saída dos americanos. Trump não consegue enxergar além das fronteiras dos Estados Unidos, as quais deseja que permaneçam fechadas para os estrangeiros. Quanto ao resto do mundo, acha que pode dar conta sozinho. Fala como um colonialista do século XIX. Nem em sonhos a "América voltará a ser grande outra vez". Em seu devaneio, não enxerga a ascensão econômica da China, nem a União Europeia. Na sua megalomania, Trump não percebe que não tem cartas suficientes para prescindir dos aliados europeus. A menos que se alie à Putin. Foi isso que Zelenski quis dizer a ele. Como no jogo de pôquer, ficou claro que Trump estava blefando. A cilada não deu certo. Zelenski demonstrou ser um bom jogador. Perdeu os EUA, mas ganhou a Europa.


  

 
 
 

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