O Economista do ano
- José Maria Dias Pereira
- 16 de abr.
- 3 min de leitura
A Argentina saiu da recessão no final do ano passado, embora o PIB tenha diminuído em 2024 (queda de 1,7%). A inflação caiu de 118% ao ano em 2024 para 67% anuais em fevereiro e pode baixar a uns 30% em dezembro de 2025. A contenção de preços depende de déficit zero e peso supervalorizado, dificilmente sustentáveis. O país tem câmbio manipulado e controle de capitais. Não tem mercado de dívida pública e, sem apoio do FMI, que virá com um aporte de mais US$ 20 bilhões em empréstimos, quebra e não tem reservas.
Alguns dias depois, a análise do colunista de economia do portal UOL provou estar correta. O próprio ministro da economia argentino anunciou que o país irá acabar com as restrições de compra de moeda estrangeira e o regime de câmbio seria flutuante até o limite das chamadas “bandas cambiais”, dentro da faixa de 1.000 e 1.400 pesos argentinos. Na verdade, esse tipo de regime de câmbio já foi adotado pelo Brasil no passado, com o governo vendendo ou comprando moeda estrangeira sempre que a banda cambial for ultrapassada. O câmbio irá, gradualmente, se ajustando até a completa liberação do mercado. Mas não é bem assim.
Quem tem alguma familiaridade com os argentinos, sabe que eles não confiam na própria moeda. Houve uma ocasião em que devolvi um produto que paguei em dólar, mas o estabelecimento devolveu o valor em pesos. Tudo indica que o peso argentino irá sofrer forte desvalorização, pois a Argentina praticamente não dispõe de reservas cambiais e, emergencialmente, vai ser socorrida com o empréstimo de 20 bilhões de dólares pelo FMI. Com isso o “Milagre” da queda da inflação ficará comprometido.
Com alguns números positivos num braço e a motoserra no outro, Javier Milei assume o papel de protagonista na extrema direita. Para minha surpresa e, suponho, algo sem precedentes na história, Milei foi escolhido “Economista do Ano”, pela Ordem dos Economistas do Brasil (OEB), uma entidade que, francamente, não considero representativa dos economistas brasileiros. Legalmente, os economistas são representados pelo Conselho Federal de Economia e suas seções regionais. Uma comitiva de economistas foi a Buenos Aires entregar a comenda. Como a Argentina é o principal país que recebe condenados do golpe de 8/01/2023, não é de se duvidar que algum deles estivesse infiltrado na cerimônia.
Será Milei merecedor da homenagem? Depende da régua usada para comparação. Se for comparar com o desempenho do governo anterior (peronista), seus resultados na diminuição da inflação e déficit público são melhores. Mas, em relação ao Brasil – que cresceu 3,4%, a inflação é muito baixa, e a economia tende ao pleno emprego, o resultado do nosso vizinho é bem pior. Nada consta que Haddad tenha sido lembrado pelos mentores do prêmio para concorrer.
Enquanto o governo Lula mira em programas distributivistas para diminuir a pobreza e promover maior justiça tributária, o governo Milei faz o contrário. Segundo dados da UNICEF de 2024, a pobreza aumentou de 41,7% para 52,9% na Argentina em um ano e já afeta 15 milhões de pessoas. De acordo com o relatório, mais de 3 milhões de aposentados estão abaixo da linha da pobreza. Em 2024, centenas de aposentados marcharam em dezenas de protestos contra a política de austeridade de Javier Milei. O país tem 6,5 milhões de pessoas nessa situação. Seis de cada dez recebem a aposentadoria mínima, fixada em outubro de 2024 em 244 mil pesos (R$ 1.300).
Para finalizar, gostaria muito de saber qual foi o critério de escolha do “Economista do Ano” pela OEB?
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