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300 anos do nascimento de Adam Smith

Foto do escritor: José Maria Dias PereiraJosé Maria Dias Pereira

Atualizado: 15 de jun. de 2023

Os homens de ação que se julgam livres de qualquer influência intelectual são em geral escravos de algum economista já falecido (J.M. Keynes).


“Fui a Glasgow, na Escócia, para comemorar o 300º aniversário do nascimento, em 5 de junho de 1723, de meu herói, Adam Smith. Glorioso. Formado pelas Universidades de Edimburgo e Oxford, de 1751 a 1764 Smith foi professor de lógica e depois de filosofia moral na Universidade de Glasgow. Smith, assim como seu amigo David Hume, era amável e tinha muitos amigos na burguesia”.


O texto do parágrafo acima foi escrito pela economista Deirdre Nansen McCloskey, doutora pela Universidade de Harvard e professora emérita da Universidade de Illinois, em Chicago. A economista é colunista da Folha de São Paulo há cerca de um ano, quando substituiu o economista Delfim Netto, de 93 anos, que escrevia na “Folha” desde 1986. Nascida em 1942, Deirdre viveu a maior parte de sua vida como Donald. Casou-se em 1965, teve dois filhos e separou-se em 1995, quando decidiu fazer a transição de gênero e tornar-se uma mulher trans. A história de sua transição ficou mais conhecida depois de uma entrevista que ela deu para o Fantástico há alguns anos atrás.


Curiosidades à parte, o fato é que os 300 anos do nascimento do “pai” da Ciência Econômica não teve o destaque que merecia – nem mesmo entre os seus conterrâneos escoceses, reclama Deirdre. Ele escreveu o livro "A Riqueza das Nações", em 1776, nos primórdios da “revolução industrial” inglesa, obra que viria ser uma espécie de “Bíblia” para a burguesia do emergente capitalismo. Escrito de forma didática, apesar da distância temporal que nos separa hoje daquela época, é possível usar o livro nas disciplinas teóricas ou históricas nos cursos de Economia. A “divisão do trabalho”, demonstrada através de um exemplo didático da fabricação de alfinetes, não deixa dúvida quanto à possibilidade de leitura da obra original ainda hoje atrair a atenção dos estudantes.


É bom lembrar que, na época de Smith, o mundo parecia andar mais devagar. Filosofia e economia eram assuntos tratados juntos. Daí porque Adam Smith, praticamente a vida inteira, se correspondeu com o famoso filósofo inglês David Hume. Ele era muitas outras coisas, desde funcionário público na alfândega da Escócia até tutor de um Duque. Observador arguto, Smith ganhava mais como tutor do que como professor na Universidade de Glasgow, situação que, apesar do tempo passado, não mudou muito. Foi nessa época que ele entrou em contato com um grupo de economistas franceses (os fisiocratas), liderados por um médico da corte de Luís XV chamado François Quesnay.


O filósofo e economista alemão Karl Marx, autor de “O Capital”, publicado em 1867, que achava Smith uma espécie de ícone dos “economistas burgueses”, acusou Smith de copiar as ideias dos fisiocratas. Acho uma crítica exagerada. O ponto é que, para os fisiocratas, a riqueza (ou o “produto líquido”) tinha origem na agricultura – única atividade capaz de gerar um excedente. Smith substituiu a agricultura pela indústria e, por causa disso, sua interpretação ficou mais próxima da realidade inglesa, onde a revolução industrial se achava mais adiantada do que na França.


Aqueles que iam visitar Adam Smith na Escócia achavam que ele jamais terminaria de escrever o livro. De fato, ele levou mais de 10 anos para publicar o livro. Mas o sucesso foi imediato. Até então, ninguém havia compreendido melhor o pensamento da nova classe emergente (os capitalistas) quanto ele. O egoísmo e o desejo de acumular riqueza, na lente de Smith, deixam de ser defeitos e passam a ser virtudes. Cada um, procurando o melhor para si mesmo converge, através de uma “mão invisível”, para o interesse da sociedade como um todo. De onde vêm essa “mão invisível? Adam Smith, que também foi um filósofo moral, achava que todas as pessoas tinham uma espécie de “expectador externo” que as levava a saber diferenciar o certo do errado.


Para Deirdre, Smith era “um homem adorável e ligeiramente estranho. Era conhecido por parar no meio de uma rua movimentada durante 20 minutos, congelado em um novo pensamento”. Aliás, existem muitas histórias engraçadas sobre ele. No excelente livro de Ian Simpson Ross, “Adam Smith – uma biografia”, Smith é descrito como um velhote rabugento, com uma saúde frágil por causa das várias doenças contraídas na infância. Segundo Ross, quando tinha três anos de idade, Smith teria sido raptado por uma trupe de ciganos e, logo que sentida a sua falta, um tio teria saído atrás e recuperado a criança. Por pouco, Smith escapou de virar cigano! Além de distraído, aparentemente Smith também era sonâmbulo. Certa manhã, Smith começou a caminhar no jardim de sua casa, ainda de robe, e só acordou numa praça quando ouviu os sinos da igreja tocando para a missa de domingo. Tudo isso pode ser apenas lenda também.


Além de ser lembrado por ser o primeiro a elaborar um estudo metódico das transformações econômicas de sua época, Adam Smith permanece atual. Segundo Ross, o debate sobre o significado de suas ideias continua mais vivo do que nunca. Não será perigoso fazer julgamentos sobre o bem e o mal com base nos sentimentos ao invés da razão? Como poderemos chegar a padrões morais mais elevados? Será que a visão do Estado mínimo e liberdade individual máxima são aplicáveis, na prática? O interesse pessoal deve ter limites mesmo no livre mercado? Essas e outras questões continuam sem resposta até hoje

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