Holocausto de judeus
Falando de improviso, isto é, sem ler texto previamente preparado pela assessoria, Lula provocou uma forte reação negativa, por parte do atual governo de Israel, ao mencionar o Holocausto de judeus. Porém, ao contrário da maioria, não acho que, ao fim e ao cabo, o resultado tenha sido negativo para o presidente. Claro, existem perdas também, principalmente para a nossa diplomacia, que foi pega desprevenida, uma vez que estava envolvida com a preparação do G20, no Rio.
O incidente diplomático teve mais repercussão do que tudo que falou Joe Biden até agora, por exemplo. Envolvido, "até o pescoço", na sua política externa em apoiar seu aliado Israel, que não quer um cessar fogo humanitário, o discurso do governo norte-americano, até agora, não foi além de uma fraca condenação ao massacre de civis na faixa de Gaza. Pode ser que mude, devido à proximidade das eleições no EUA (que está na fase de “primárias”).
Embora condenando as palavras usada por Lula – no caso a comparação entre o Holocausto e o massacre na Faixa de Gaza – os Estados Unidos viram, talvez, no desejo de Lula tornar-se uma liderança mundial, uma oportunidade de pressionar Israel sem um envolvimento direto. Tanto que mandou para a conferência o Secretário de Estado, Antony Blinken (descendente de judeus), que teve uma reunião mais longa do que o esperado com Lula, em que, segundo ambos declararam, convergiram em vários pontos, inclusive com a criação de um Estado Palestino.
Fato é que Lula, como deveria ter feito desde o início, “passou a bola” para o Ministério de Relações Exteriores brasileiro e foi cuidar da vida, isto é, da governabilidade (leia-se negociar emendas com o “Centrão” em troca de apoio). A reação de Israel, através do seu primeiro-Ministro (Benjamin Netanyahu) e do Ministro de Relações Exteriores foi desproporcional e, julgo eu, desrespeitosa. Além do uso de expressões chulas, como dizer que "Lula cuspiu no rosto dos judeus brasileiros", chamar o presidente de "Persona non grata", também constrangeu nosso Embaixador obrigando-o a visitar o Museu do Holocausto.
Só o oportunismo de Netanyahu, que usa a guerra para se manter no poder, pode justificar o agressivo ataque à manifestação de Lula. Depois do massacre (Lula chamou de genocídio) perpetuado na faixa de Gaza, dificilmente se manterá no poder, pois sua popularidade já vinha despencando com o seu projeto autoritário de reduzir a legislação democrática de Israel, que levou muita gente a protestar nas ruas. O insuficiente esforço para a liberação dos reféns e a priorização da destruição do grupo terrorista Hamas deverão colocar um fim na sequência de “Bibi” (apelido de Netanyahu) à frente do gabinete israelense.
O erro de Lula, ao comparar a situação de Gaza com o Holocausto, que resultou na morte de seis milhões de judeus, foi que desviou o foco da sua intenção de condenar os ataques indiscriminados de Israel, que têm resultado na morte de milhares de civis, entre eles mulheres e crianças indefesas. A pretensão do Ministro do Ministro de RE israelense de ensinar o que é o nazismo a Lula é arrogante e mal-educada. Mais absurda ainda é o pedido de impeachment da oposição! Uma coisa não tem nada a ver com a outra. A vergonha é tanta que não querem seus nomes divulgados.
Não é a primeira vez que a tentação de improviso, por parte de Lula, gera crises desnecessárias. Sua autoestima é tanta que, após ter "conquistado" o Brasil três vezes, pretende agora liderar a governança global. Seu "cavalo de Tróia" é a reforma do Conselho de Segurança da ONU que, devido ao poder de veto das grandes potências, caducou. É perda de tempo reunir um Conselho que não consegue decidir nada. Criado com a ONU no fim da II Guerra (1944), para evitar guerras, hoje está completamente desmoralizado.
Na minha opinião, caberia a comparação dos campos de concentração nazistas com a prisão a céu aberto de Gaza. Afinal, os palestinos não podem ir a lugar nenhum. Acho que era isso que Lula queria dizer. Sem a pretensão de ensinar o que é o Holocausto para quem quer que seja, recomendo aos leitores um filme que vi recentemente. O título é “A Conferência”, na plataforma de streaming Prime Vídeo, que trata de uma reunião, em1942, do alto escalão nazista para planejar o assassinato em massa de milhões de judeus em toda a Europa. Na ocasião, após debaterem a demora para transportar os judeus nos trens, os oficiais nazistas chegaram à chamada “solução final”, ou seja, o uso do gás nos campos de concentração.
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