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Os políticos e a educação

Foto do escritor: José Maria Dias PereiraJosé Maria Dias Pereira

Como sempre acontece nas campanhas políticas, todos os candidatos falam que vão priorizar a educação. Cada um, discursa repetindo frases feitas sobre a importância da educação para o desenvolvimento do país. É recorrente a crítica sobre a baixa qualidade do ensino e a necessidade de qualificar melhor a nossa mão-de-obra. Após eleito, porém, a educação sai da agenda do cidadão e o interesse passa a ser o “orçamento secreto”, esconderijo das verbas que irão garantir a sua reeleição. Segundo o TSE, 457 dos 513 atuais deputados federais irão concorrer à reeleição, o que significa que a ampla maioria deles não quer largar essa “boquinha”. A estimativa é que cerca de 60% sejam reeleitos, mantendo a tradicional taxa de 50% de renovação da Câmara Federal.


Vejamos o que acontece no atual governo. Quando há um contingenciamento ou corte de verbas, o setor mais afetado é quase sempre a educação ou a pesquisa. Recursos da educação básica são liberados de acordo com conveniência política, como vimos recentemente o caso da influência dos pastores evangélicos na liberação de verbas do MEC para as prefeituras. Basta dizer que já passaram pelo MEC, nada menos que quatro ministros: o primeiro era estrangeiro e nada entendia do setor; o segundo, queria prender e chamou de “vagabundos” os ministros do STF; o terceiro indicado nem tomou posse porque falsificou o currículo; o quarto foi o pastor acusado de corrupção, cuja arma disparou no aeroporto. Parece piada, mas não é.


Fora tudo isso, a educação foi um dos setores mais atingidos com quase dois anos da pandemia da Covid. O pior é que a perda na educação é irreparável, principalmente para as crianças mais pobres, que não têm computador em casa ou pais mais instruídos para ajudá-las. Talvez, carreguem esse peso para o resto da vida. Segundo o setor de educação básica do MEC, a proporção de crianças com nível de alfabetização abaixo do esperado para a idade, ou seja, que têm dificuldade de leitura e escrita, passou de 15,5% para 33,8%. Por outro lado, seja por desmotivação ou necessidade (completar a renda da família, que diminuiu na pandemia), muitos jovens abandonaram os estudos, como provam as altas taxas de evasão escolar. Se irão retornar ou não, quando a economia se recuperar, vai depender de políticas públicas que estimulem o retorno às salas de aula.


A pandemia também aumentou o desemprego, principalmente entre os jovens e trabalhadores mais velhos. Nos últimos meses, tem ocorrido uma queda na taxa de desemprego – caiu de 11% para 9,3%. Porém, os empregos criados são de pior qualidade (em termos salariais) do que os empregos fechados. Isso faz com que a renda familiar seja insuficiente para sustentar uma família, mesmo com os auxílios do governo. Como consequência, o país tem mais de 33 milhões de pessoas que passam fome e, agora, faz parte do “mapa da fome”, da ONU. Tudo isso acontece em um país que é o terceiro exportador de grãos do mundo e não num país africano pobre que depende de caridade.


As estatísticas oficiais sobre o desemprego aberto, basicamente se baseiam em dados do cadastro do Ministério do Trabalho, que monitora as admissões e demissões de trabalhadores. Porém, os dados sobre o desemprego informal (sem direitos trabalhistas) são menos confiáveis e é justamente nesse setor que tem aumento significativo no número de vagas de empregos. Como a renda nesse setor é incerta, esta é uma das causas do aumento da fome e da pobreza, somando-se nessa conta a inflação dos alimentos, que atinge, mais intensamente, os mais necessitados.


Anomalias do regime democrático, como o “centrão” ou “orçamento secreto”, só são possíveis porque alguém votou nos políticos que estão lá em Brasília. Muitos condenados pelo recebimento de propina, inclusive alguns que foram pegos “com a boca na botija”, estão “na moita”, como diz o gaúcho, e vão concorrer novamente. O caso mais escandaloso é o de Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara, que, como vários outros condenados pela Justiça, aposta na memória curta do povo para voltar ao Parlamento. Pesquisa do Datafolha (julho 2022) mostrou o seguinte absurdo: embora apenas 12% dos brasileiros aprovem a atuação dos parlamentares, 64% não lembram em quem votaram para deputado federal quatro anos atrás.


Enquanto os eleitores não levarem a sério a escolha dos seus representantes, os atuais políticos se perpetuarão no poder, aliás como vêm fazendo de geração a geração. O paradoxo é que foi a política que nos legou uma casta de políticos da pior espécie e, só através dela, poderemos nos livrar deles. É assim que funciona numa democracia. Como diz o ditado, “cada povo têm os políticos que merece”.

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8 de janeiro

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