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Existe vida após a aposentadoria?

Foto do escritor: José Maria Dias PereiraJosé Maria Dias Pereira

O que devemos fazer para manter nosso cérebro ativo e melhorar nossa memória após a aposentadoria? A maioria de nós acha que após a aposentadoria irá fazer tudo aquilo que protelou quando estava na ativa, inclusive cuidar mais da saúde. Infelizmente, isso não é verdade, na opinião do neurologista de origem indiana, Sanjay Gupta, que também atua como jornalista especializado em Saúde na CNN.


Em entrevista à Folha, o médico revelou, inclusive, que não pretende se aposentar. Segundo ele, “as pessoas param de trabalhar achando que terão disponibilidade para fazer o que quiserem, mas a verdade é que, na maioria das vezes, quando se aposentam, perdem um estímulo que tinham todos os dias. E não o encontram na aposentadoria. Então, trabalhe o máximo de tempo que puder”.


Quanto mais cheias de coisas para fazer e problemas para resolver, melhor. A memória, que diminui com o passar dos anos, depende da atividade cerebral e, claro, da atividade física, que é benéfica em geral, e não apenas para o cérebro. Essa visão equivale a uma "ducha fria" na visão popular de aposentadoria como um fim em si mesma. Quantas vezes ouvimos, ao encontrar amigos que não vemos há muito tempo, a seguinte frase: "só estou esperando completar o tempo para me aposentar".


Segundo o neurologista, quando estamos na vida profissional e trabalhamos regularmente, nosso cérebro não apenas funciona bem, mas continua melhorando. É aquele velho ditado "use-o ou perca-o". Podemos criar novas células cerebrais ao longo de nossas vidas, algo que antes não acreditávamos ser possível. Conforme envelhecemos, o cérebro pode se tornar mais afiado, pois tivemos mais tempo para consolidar informações. Se continuarmos a usar o cérebro da mesma forma que usávamos quando éramos mais jovens, ele não entra em declínio.


Durante nossa vida, podemos experimentar uma perda de memória típica da idade avançada, porque há um desgaste natural do sistema nervoso que acontece com o passar dos anos que pode causar problemas de memória. “Esquecer onde botou as chaves não é um esquecimento, é apenas um gesto feito sem atenção que não ficou gravado em sua memória. Na verdade, você nunca criou essa memória. Não é que você esqueceu, você nunca armazenou isso nos seus bancos de memória”, diz o médico.


Não discuto os argumentos, por suposto baseados na ciência médica. Mas não acho que a chave para manter a memória e um cérebro saudável seja trabalhar a vida inteira. Provavelmente, isso seja possível no trabalho intelectual, mas é discutível no caso do trabalho de baixa qualificação, que se caracteriza pelo esforço repetitivo. Marx (1867) já se referia no "O Capital" que, com a evolução do capitalismo, na fábrica, o trabalhador era condenado a tarefas repetitivas que diminuíam a qualificação do trabalhador em comparação com o artesão que dominava todo o seu ofício. Quem dava o ritmo de trabalho passou a ser a máquina e não o trabalhador, que passava a ser apenas um apêndice da máquina.


Charles Chaplin deixou imortalizado na história do cinema, a cena do inesquecível Carlitos apertando parafusos em uma linha de montagem, no filme Tempos Modernos. Mais recente, na área de sociologia do trabalho existe uma longa discussão sobre o “ócio criativo”, na obra de Domenico De Masi, sociólogo italiano recentemente falecido. Lorde Keynes, o célebre economista inglês, imagina um capitalismo futuro em que o problema econômico já teria sido resolvido e, então, trabalhar três horas por dia seria suficiente para sossegar o velho Adão que existe dentro de cada um de nós. Ler, filosofar, viajar e aproveitar os prazeres da vida seriam coisas mais importantes do que trabalhar. Aliás, os antigos romanos já haviam se dado conta disso. Um deles deixou a seguinte reflexão no seu epitáfio:


 "Vivi avaramente o tanto que me foi dado viver, por isso vos aconselho a gozar os prazeres mais do que eu. Assim é a vida - chegamos aqui e não mais longe. Amar, beber, ir aos banhos, essa é a verdadeira vida; depois não há mais nada. Nunca segui os conselhos de um filósofo. Desconfiai dos médicos, foram eles que me mataram" (Comédias da Vida Privada, v1).


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