A comunicação digital
Conheço o agora ex-ministro Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação Social (Secom), há muitos anos. Se a memória não me trai, acho que desde 1985, quando aqui cheguei para trabalhar na UFSM. Ele era vereador naquela época. Depois, nos reencontramos várias vezes em eventos diversos, como na campanha de Marcos Rolin à prefeitura. Já deputado federal, Pimenta e eu divergimos, nas páginas do “Diário”, por causa de um artigo que escrevi a respeito dos transgênicos. O artigo criticava a ida de um grupo de deputados visitar as fazendas da empresa Monsanto no exterior, mas não citava o nome de Pimenta. O deputado, que tinha posição contrária e depois favorável aos transgênicos, pediu ao jornal direito de resposta. Tudo certo, dentro da “liberdade de expressão”. Engraçado, naquela época, essa era uma bandeira da esquerda. Hoje, passou a ser da direita.
Conto esse episódio como contraponto do que acontece hoje dia com as chamadas “Redes Sociais”. Apesar de ser jornalista, que eu saiba, Pimenta nunca trabalhou no ramo. Por causa disso, não esperava vê-lo à frente da Secom, na equipe do novo governo Lula. Fosse um outro cargo, uma boa equipe de retaguarda daria conta do recado. Mas na comunicação não. O seu titular tem que “meter a mão na massa”, já que tem um alto grau de exposição na mídia. Sem contar a distribuição de verbas para os meios de comunicação, objeto de crítica por aqueles que se acham prejudicados.
Confesso que também achei estranha a nomeação de Pimenta como um “ministro extraordinário” para tratar da questão das enchentes no RS. Talvez por ser gaúcho, Pimenta participou várias vezes de reuniões com prefeitos, prometendo verbas para reconstrução, etc., que não estavam na sua alçada. Enquanto isso, abriu um flanco para que a comunicação do governo Lula fosse atacada em outras frentes, sobretudo falta de diálogo com a própria imprensa.
A dificuldade de divulgar as ações positivas do governo petista para a população era demonstrada toda vez que saía uma nova pesquisa de opinião. Ao mesmo tempo, o sacrifício necessário para zerar o déficit público ou a importância da reforma tributária eram usados pelos adversários para desgastar o governo. Quem sempre se expunha era (e ainda é) Fernando Haddad, que tinha que “matar um leão” todo dia. Quando o próprio Lula reclamou da Comunicação, Pimenta perdeu o cargo. Deve ganhar outro na volta das férias. Desta vez, Lula “não dobrou a aposta” e colocou o próprio "marketeiro" de sua campanha, Sidônio Palmeira, à frente da Secom.
Segundo a colunista Raquel Landim, do UOL, não ter conseguido realizar a licitação da área de promoção digital do governo Lula, após dois anos de mandato, foi o fator determinante do fracasso da gestão de Pimenta. Ela se refere ao contrato de R$ 197,7 milhões cancelado por suspeita de corrupção, cuja nova licitação só foi recentemente autorizada pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
Ao contrário da publicidade tradicional, comunicação digital leva tempo. Até agora, o Planalto vinha trabalhando sua comunicação digital de forma totalmente amadora. Dessa forma, o governo se tornava presa fácil para influenciadores digitais adversários com grande número seguidores, como foi o caso do vídeo de um jovem e oportunista deputado mineiro, cujo nome prefiro não mencionar para não o beneficiar.
Até o momento de o ministério da Fazenda voltar atrás na resolução que alterava as regras de fiscalização da Receita Federal sobre o PIX, o vídeo já acumulava milhões de visualizações. O vídeo não disseminava a fake News de que o PIX seria taxado, mas plantava a dúvida - infundada - de que poderia vir a ser. Além disso, demagogicamente, faz uma defesa clara da sonegação, ao dizer que o mais afetado seria o trabalhador informal, que não declara tudo no imposto de renda porque senão não poderia pagar suas contas.
Comentarios