Ataque à democracia e aumento da pobreza
Segundo notícia veiculada pelo portal UOL, com base em informações da agência americana Bloomberg, Bolsonaro pediu ajuda a Biden para vencer Lula. Isso teria ocorrido durante uma reunião privada que ambos tiveram, a pedido de Bolsonaro. De acordo com a agência, Bolsonaro retratou Lula como "um perigo para os interesses dos EUA". Biden, porém, falou sobre a importância de preservar a integridade eleitoral do Brasil.
A reunião dos dois presidentes ocorreu durante a Cúpula das Américas, realizada nos Estados Unidos. Na mesma ocasião, a comissão do Congresso americano encarregada de investigar a invasão do Capitólio, por apoiadores de Trump, realizava a primeira audiência pública para apresentar o seu relatório. Ora, até as pedras sabem da identificação de Bolsonaro com Trump e, obviamente, também Biden. Sabe, certamente, da ameaça à democracia que Bolsonaro representa e dos riscos que uma democracia sólida, como a norte-americana, sofreu com a invasão do Congresso daquele país. Biden, que parecia bastante incomodado no encontro oficial com Bolsonaro, deve ter achado o pedido, no mínimo, ridículo.
Outro exemplo do desespero de Bolsonaro diante de mais de uma pesquisa que aponta a possibilidade de Lula vencer ainda no primeiro turno, é o questionamento, por parte do Ministro da Defesa, nomeado por ele, da licitude do processo eleitoral por meio de urnas eletrônicas. O ministro acusa o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de “desprestigiar as forças armadas”, quando é justamente o contrário. O TSE inclusive, na minha opinião, errou ao convidar um representante militar para fazer parte do corpo de técnicos encarregados de testar a segurança do programa do voto eletrônico. Apesar das boas intenções, o gesto deu a impressão de que o TSE, de alguma forma, precisava do aval das forças armadas. Aliás, até estas eleições, os militares nunca questionaram o sistema do TSE. Então, por quê agora apresentaram 88 questionamentos e sugestões? O encontro entre Biden e Bolsonaro, pelo menos, serviu para alguma coisa: se Bolsonaro está pensando em golpe, não terá o apoio dos EUA.
O aumento da pobreza é o principal motivo pelo qual o próprio Bolsonaro não acredita em vitória. Do contrário, não estaria pregando contra a democracia. Por exemplo, segundo o IBGE, o rendimento médio mensal domiciliar por pessoa caiu 6,9% em 2021, de R$ 1.454 em 2020 para R$ 1.353. Esse é o menor valor da série histórica, iniciada em 2012. Apesar de disseminada entre as classes sociais, a queda na renda foi maior entre as pessoas com menor rendimento. Em 2021, o 1% da população brasileira com renda mais alta teve rendimento 38,4 vezes maior que a média dos 50% com as menores remunerações. Norte e Nordeste registraram os menores valores, R$ 871 e R$ 843, respectivamente. Sul e Sudeste se mantiveram com os maiores rendimentos, de R$ 1.656 e R$ 1.645, respectivamente.
A pesquisa também mostra um aumento da desigualdade em 2021. Esse movimento é medido pelo índice de Gini, que retomou o patamar de dois anos antes (0,544). Quanto maior o Gini, maior a desigualdade. Todas as regiões pioraram, no que se refere a esse indicador de pobreza, entre 2020 e 2021, com destaque negativo para Norte e no Nordeste. A explicação, segundo o IBGE, é a de que são regiões onde o recebimento do auxílio-emergencial atingiu maior proporção de domicílios durante a pandemia e podem ter sido mais afetadas com as mudanças no programa ocorridas em 2021.
Em resumo, o Brasil registrou 1,8 milhões de famílias a mais em situação de extrema pobreza nos dois primeiros meses de 2022 – um aumento de 11,8% em relação ao final de 2021. Ao todo, o país soma 17,5 milhões de famílias vivendo com renda per capita mensal de até R$ 105. Os dados são do Cadastro Único para Programas Sociais do governo, que coleta as informações para identificar as famílias de baixa renda existentes no país para fins de inclusão em programas assistenciais, como o Auxílio Brasil (nome do programa eleitoreiro que substituiu o Bolsa Família).
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