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Aniversário do golpe militar

Foto do escritor: José Maria Dias PereiraJosé Maria Dias Pereira

O 31 de março de 2024, foi um dia comum como outro qualquer na vida. Exceto pelo fato do calendário cristão, marcar um dia especial. Nessa data, os católicos comemoram o domingo de Páscoa - data da Ressureição de Cristo. Até aí, nada de especial, pois é algo que se repete ano após ano. As procissões, missas e outras demonstrações de fé acontecem, com a mesma regularidade, todos os anos. Fora isso, o que marcou o domingo passado foi a divisão da esquerda: de um lado, a posição do presidente Lula contrária a manifestações críticas ao aniversário de 60 do golpe militar. “Não é hora de ficar remoendo o passado”, disse ele.  

 

A manifestação foi recebida com estranheza pela esquerda tradicional e vista, por muitos, como mais uma concessão aos militares. Afinal, a Lei da Anistia colocou uma pedra em cima da tortura e mortes da ditadura militar. No período de 21 anos que durou a ditadura, cerca de 420 pessoas foram mortas ou, simplesmente, desapareceram do mapa. A própria “Comissão da Verdade” foi sepultada no governo Bolsonaro e sempre representou um ponto de atrito entre os militares e Dilma, pelo apoio da presidente à referida Comissão, ela própria uma testemunha viva da tortura. 

 

Lula se justifica sob o argumento de que o importante é punir os militares que participaram ou apoiaram a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2024. Entendo o pragmatismo do presidente, mas não concordo. Tivessem os torturadores sido punidos exemplarmente no passado, qualquer outra tentativa de golpe no presente seria mais difícil. Havia, inclusive, entre os cabeças da tentativa de golpe, remanescentes da ditadura militar. O caso mais notório é o do General Augusto Heleno – que foi chefe de gabinete do General Sylvio Frota, ministro da Guerra, notório “linha dura” do Exército, que tentou liderar um golpe no governo Geisel, mas acabou sendo “emparedado” por Geisel.  

 

"Tentativa de golpe não é golpe?". Essa frase foi verbalizada muitas vezes pelos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Se assim for, todo golpe que não deu certo deveria ser perdoado. Em recente evento na Avenida Paulista, que reuniu milhares de apoiadores, Bolsonaro fez um apelo ao Congresso para perdoar seus correligionários que estão presos ou processados. Ora, a liberação do sigilo dos depoimentos à Polícia Federal do Tenente-Coronel Mauro Cid e dos generais Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, e do Brigadeiro Carlos Almeida Baptista, ex-comandante da Aeronáutica, lançaram uma nova luz sobre o ensaio preparatório ao golpe, que culminaram com os acontecimentos do dia 8 de janeiro.  

  

Os militares mais graduados da República, sejam eles conspiradores ou não, sabiam ou participaram de várias reuniões preparatórias e nenhum deles denunciou o golpe que estava em marcha. Havia quase uma constelação de generais de quatro estrelas - alguns ainda na ativa. Havia, claro, "peixes menores", como o delegado Anderson Torres da PF (ex-ministro da Justiça). Inclusive, a minuta do golpe foi encontrada, pela primeira vez, nas buscas da PF em sua residência. Essa minuta teria sido discutida em várias reuniões, dentro até do próprio Palácio do Planalto. Ou seja, o golpe estava armado. Só havia dúvida na escolha do instrumento a ser usado para dar um ar de "legalidade" ao golpe: Garantia da Lei e da Ordem (GLO) ou Estado de Defesa. Porém, não havia consenso entre as Forças. Pelo que foi apurado até agora, só o ministro da Marinha apoiou incondicionalmente Bolsonaro. Havia resistência, principalmente por parte dos militares da ativa e do então ministro do Exército.  

  

Ainda há muita coisa a ser revelada. A retirada do sigilo dos depoimentos dos generais, por parte do ministro do STF, Alexandre de Moraes, parece ser apenas a "ponta de um iceberg". Quase nada se sabe da participação dos financiadores civis ao golpe. Menos ainda dos políticos envolvidos. Algumas pontas ainda estão soltas. Por exemplo, o acampamento em frente ao QG em Brasília foi justificado pelo ex-ministro do Exército por não ter recebido uma ordem judicial para desfazer o acampamento. O que se sabe é que a PM do DF foi impedida de executar a ordem judicial pelo próprio Exército. Pergunta ao ex-ministro do Exército: se o MST estivesse acampado em frente ao QG, por semanas, ele teria a mesma atitude? 

 

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