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A reinvenção do Fascismo

Foto do escritor: José Maria Dias PereiraJosé Maria Dias Pereira

O mundo de hoje está cheio de grupos egocêntricos e radicais, incapazes de ver a vida humana como totalidade, e muito mais dispostos a destruir a civilização do que ceder um milímetro sequer em suas posições” (Bertrand Russell/1872-1970).


O que é o Fascismo? Por causa de Mussolini, grande parte das pessoas acredita que o fascismo é um movimento político-ideológico genuinamente italiano. Não é verdade. Alguns vão buscar a origem do movimento fascista no Renascimento, mais precisamente em Machiavel, no seu célebre livro “O Príncipe”. Segundo Leandro Konder, no livro “Introdução ao Fascismo”, na sua concepção moderna, o fascismo aproveitou elementos das mais diversas linhas de pensamento reacionárias, reunindo-os de maneira eclética e com objetivo pragmático, sem se preocupar com o rigor e a coerência de uma reflexão filosófica.


Para definir o fascismo é preciso buscar auxílio nos conceitos de “direita” e “esquerda”, que muitos consideram uma diferenciação ultrapassada. Porém, se formos buscar a posição política daqueles que pensam dessa forma, veremos que nunca são indivíduos de esquerda. Acontece que o conceito de direita é imprescindível para a compreensão do fascismo. Uma visão abrangente identifica, como sendo de direita, o sujeito que defende a manutenção do status quo, ou seja, empenhado em conservar um determinado sistema que o beneficie. Daí o conservadorismo intrínseco da direita. Até aqui, a direita está dentro das regras do sistema democrático. Somente quando a direita radicaliza, pretendendo destruir a própria democracia, é que temos o fascismo.


Segundo Konder, incapaz de ter luz própria, o fascismo foi buscar ideias no campo inimigo. Preocupados com uma “revolução proletária”, os conservadores, pragmaticamente, importaram do marxismo alguns conceitos, desligando-os do contexto em que tinham sido elaborados, e tornando-os úteis aos seus propósitos. Coube ao fascismo italiano, com Mussolini, a primazia de fazer essa transformação. Vamos dar um exemplo.


No “Manifesto Comunista”, de 1848, publicado quando Marx tinha 30 anos e Engels 28 anos, eles escreveram: “A história de toda a sociedade existente até hoje tem sido a história da luta de classes”. Marx acreditava que, numa determinada etapa histórica, a humanidade estaria preparada para, através da ação revolucionária do proletariado, por um fim a luta de classes e criar o comunismo, isto é, uma sociedade sem classes sociais. Mussolini, ao contrário, achava que a luta de classes fazia parte da natureza humana e que, portanto, era impossível extirpá-la. No máximo, se poderia discipliná-la. Era preciso criar um valor supremo para realizar esse feito – um mito: a pátria. Seria esse (a nação) o alvo da propaganda fascista.


O fim de Mussolini e Hitler foi trágico. No dia 28 de abril de 1945, Mussolini, capturado na véspera por um grupo de guerrilheiros, foi enforcado. Dois dias depois, no dia 30 de abril, com a chegada das tropas soviéticas em Berlim, Hitler teria tirado a própria vida em seu Bunker. Sem o apoio das classes médias conservadoras e da burguesia industrial fascista, Mussolini e Hitler não teriam chegado onde chegaram. A guerra deixou cicatrizes de milhões de mortes, enquanto a palavra “fascista” passou a ser usado como injúria política.


Infelizmente, eventos recentes indicam que o pesadelo fascista pode estar voltando. A guerra (Putin prefere chamar de “evento especial”) entre Rússia (invasora) e Ucrânia trouxe, nos últimos dias, várias perguntas. Até então, não se sabia da importância da milícia paramilitar de 50 mil mercenários, usada na linha de frente da invasão pelos russos. Seus membros são militares da reserva e prisioneiros libertados das cadeias para lutar no front. Qualquer bilionário, como o dissidente Ievguêni Prigojin, poderia ter seu exército particular? Aliás, o mesmo grupo atua em vários países pobres da África extorquindo dinheiro, ora apoiando um lado do conflito, ora apoiando o outro.


Qual o papel do exército regular no futuro? Seria coincidência que esse grupo denominado Wagner – nome do compositor clássico preferido de Hitler – seja de perfil de extrema-direita? Ao proteger os acampamentos à frente dos quartéis, que serviram de preparo para a tentativa frustrada de golpe no 8 de janeiro, teria o exército brasileiro ficado à espera de uma liderança fascista (o “mito”) que se acovardou? A proliferação de informações falsas nas redes sociais representa uma “reinvenção” do fascismo? Hoje, o uso de robôs na internet é muito mais eficiente do que a poderosa máquina de propaganda nazista de Goebbels. Mas o objetivo é o mesmo: acirrar o nacionalismo e destruir a democracia.

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Mateus Sangoi Frozza
Mateus Sangoi Frozza
Jun 28, 2023
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Excelente Professor

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